“Que belo estranho
dia
para se ter alegria...”
Roberta Sá
Eu descobri tantas coisas desde que ele se foi. Aprendi a dizer "Preciso
de você". Incorporei na minha rotina dizer palavras de carinho para aqueles que
eu amo. Agora eu chamo as pessoas de queridas - e é sincero. Descobri quantos
amigos eu tenho. Quanta gente que me ama. Aprendi a dar valor à minha família.
Que bom sentir novamente a cumplicidade e o carinho que eu tinha deixado de
aproveitar. Que jeito lindo o meu pai encontrou de continuar
vivendo...
Me vejo crescendo e penso se meu pai ficaria feliz ao me ver tão parecida
com ele. Queria que ele me visse indo até a casa da minha mãe e pedindo
desculpas por ter ficado tanto tempo longe. Se ele aprovaria as minhas
escolhas... Essas que faço sozinha.
Mas de algumas coisas tenho certeza: ele
adoraria me ver fazendo esforço pra ser alguém na vida, mesmo tão nova...
Aprovaria o meu cansaço num sábado a noite após uma semana de trabalho e estudo
intenso. E acho que não me deixaria sair. E nem gostaria de me ver chegando mais
tarde do que ele... E nem de me ver experimentando colos de outros homens além
dos dele. Queria a opinião dele pra me ajudar a decidir entre Filosofia e
Engenharia no vestibular. E não me chamar de indecisa, nem inconstante, e nem
“não-sabe-o-que-quer”, como todo mundo faz.
Apesar de tanto aprendizado, ter superado meu pânico e ter amadurecido
tantos anos em tão pouco tempo, não consigo entender porque meu pai se foi. Naqueles últimos
meses, a cada ida à aquele hospital eu tinha a sensação de que aquela poderia
ser a última vez que eu o veria. Isso me dava um medo horrível, intenso,
desconcertante, paralisador. Talvez por isso eu não tenha dito a ele o quanto o
amava. Está certo, ele sabia. Mas eu queria ter dito mais uma
vez.
Tem dias que amanhece, o sol radiante lá fora diz o nome do meu pai, o
silêncio do sábado a noite chora a sua ausência. E de repente tudo o que era
alegria vira escuridão. Tem dia que tudo o que sou se desfaz. E volta uma
tristeza aguda, o pânico que me faz ter medo de uma simples volta de carro. Em
dias como esses, nada faz sentido. Mas aí eu penso que tenho que continuar.
Porque eu sou a continuação da sua
história. E a sua história não para por aqui!